Já lá vão uns poucos anos que pela primeira vez enfrentei o nevoeiro, as silvas, o tojo e o carrasco e com as minhas fieis amigas entrei serra adentro, perdendo-me para me encontrar, levando-me à exaustão para deixar novas energias me invadirem, temendo o desconhecido para me sentir vitoriosa de regresso a casa...
Já lá vão uns poucos anos que Sintra era minha.
Partilhava-a com os meus convidados e tolerava uns tantos malucos com quem me cruzava muito esporadicamente, como aqueles que uma vez desciam o trilho que eu subia e que provavelmente por andarem a fazer o mesmo que eu, tinham o mesmo cuidado que eu na escolha da idumentária o que fazia da dupla uma visão assustadora e traziam um cão com ar feroz (e terrivelmente despenteado!). Como ía a subir e já bastante cansanda estava a olhar para o chão e só reparei que se aproximava alguém quando as cadelas começaram a correr para cumprimentar aquele simpático grupo. Confesso que de repente fiquei um bocado assustada. Até há bem pouco tempo os meus passeios restringiam-se ao paredão (que na altura também ainda era meu... pelo menos à noite, quando ainda não estava iluminado e pouca gente se aventurava por lá mas mesmo o paredão à noite parecia menos assustador do que estar ali no meio do nada onde ninguém me poderia socorrer caso... bom... não vale a pena estar a imaginar cenários de terror, para isso já tenho os meus animados sonhos, aqui na vida real essas coisas não me vão acontecer! Afinal os tipos eram pessoas normais que me disseram boa tarde e seguiram caminho chamando o Pilas, o cão despenteado e farrusco que afinal era um pacholas.
Havia ainda aquele grupo de doidos alucinados que desciam (e ainda descem) a serra de bicicleta a abrir por trilhos por eles criados e desenhados, com rampas, e montes de coisas giras para os afixionados das brincadeiras com binas. Quem já se cruzou com tal grupo sabe que só se ouvem quando já estão relativamente perto e passam num abrir e fechar de olhos, como se tivessemos tido uma alucinação! Esses malucos, apesar do perigo que representam para as minhas cadelas, merecem especial admiração da minha parte.
Depois um ou outro ciclista isolado ou em grupos mais pequenos a circular pelos caminhos mais normais e a velocidades menos vertiginosas. Uns tantos jeeps e motas que por se ouvirem à distância dava para controlar as despassaradas das minhas cadelas que ainda não perceberam o que é que são bermas.
Embora descreva aqui uma grande variedade de aves raras com quem partilhava Sintra, podiam passar semanas e semanas em que não me cruzava com ninguém, se evitasse certos locais, claro! Preciso dizer que na altura eu era muito mais regular nestas andanças e estava lá 2-3xs por semana.
Agora porém não se pode ir a lado nenhum que não estejam lá já 2 ou 3 carros estacionados, bicicletas é aos magotes, famílias inteiras, grupos de pessoas a andar em percurso que já foram marcados sem que me perguntassem nada, invasores... INVASORES! A serra é minha, ouviram? Esses caminhos que vocês percorrem fui eu que os descobri! Muitas pernas esfoladas e arranhadas por desbravar esses caminhos que entretanto os gajos dos Serviços Florestais resolveram abrir. Violaram, rasgaram, devassaram a minha serra... Minha! Voltem para o shopping que fato de treino já não vos falta!
Até filmam aquela coisa da tropa com o José Castelo Branco num dos meus sítios... aquele sítio que por ser tão especial estava reservado a ocasiões solenes... tudo vedado!
Pronto! Já mandei vir! Continuo zangada mas pelos menos já desabafei!