Sonhos, sonhos, sonhos! Depois de um buraco negro que durou algumas semanas (já estava a ficar preocupada) voltaram os sonhos em força. Gosto deles bem compridos e intrincados e malucos ou belos, malucos e belos, como o desta noite. Tão compridos que não consigo contá-lo todo mas ficam duas partes que gostei especialmente:
(hesitação devido à vontade de contar tudo...)
... e começámos a descer umas escadas talhadas na rocha calcária. Os meus olhos maravilhados examinavam cada cm quadrado daquele monumento geomorfológico... as paredes verticais, o chão aplanado... a textura do calcário, as formas repetidas do padrão criado por Eras de erosão. Cá em baixo, como liliputianos no fundo de uma piscina seca, eramos esmagados pelo peso da imensidão do Mundo, pela maravilhosa Natureza. Era um local de contemplação, de comunhão e cada um vivia-o livremente à sua maneira, como nos recordava o som continuado das rodas dos skates que exploravam as características da rocha.
Pouco depois estava ao pé de uma falésia. À minha frente outro cenário encantado, magnífico... um daqueles locais onde as palavras mudas nos saiem molhadas pelos olhos. Já estiveram num local assim? Já sentiram a comoção da absoluta beleza? Da imensidão da Vida? Ai se eu pudesse voar... atirar-me daqui e ficar presa no ar. Para sempre. A sentir este vento forte na cara. Vento insurdecedor. E o vento empurra-nos a atenção para os olhos, para a alma, para o Mundo. Somos nós e os nossos pensamentos. Só nós! Cada um de nós é só um e cada um é só uma parte do Mundo, células vivas do corpo do Universo.
Aproximo-me da beira e os meus pés descobrem umas antigas ruínas perdidas no tempo. Equilibrava-me sobre um rendilhado de colunas finas tiradas da rocha. Sinto a magia A obra do Homem face à obra da Natureza. Equilíbrio de forças? Quase! O meu espírito pede-me perdão pelos homens que não souberam merecer o que lhes foi dado e vê naquelas colunas, naquele templo perdido, esperança de um Mundo melhor. Esperança no Homem. Esperança na obra do Homem. O vento está arrasador. Vem vento, láva-me o desgosto, a vergonha de pertencer a esta espécie destruidora, assassina. Agarro-me às colunas com força. Estou no mais belo local do Universo e a obra do Homem faz parte dele. Paz. Perdão. Beleza eterna. E o vento!