enquanto eu não volto...

abandono o meu corpo devagar lamentando cada milésimo de segundo... alguém cuidará dele enquanto eu não volto?

domingo, julho 31, 2005

Obrigada Marta! (salvação parte II ou o 11 de Setembro de 2004)

Pára… não telefones! Como é que eu posso estar a entrar voluntariamente na boca do lobo e ainda ostentar um sorriso nos lábios? – “… então encontramo-nos lá daqui a uma hora. Eu vou já andando porque estou com as minhas cadelitas e vamos a pé…” Assim não corro o risco de me entusiasmar. Levo as cadelas e depois tenho as de vir trazer a casa e tenho tempo de pensar o que é que quero. Não acredito que ele esteja disposto a trazer-nos a casa no Mercedes CLK ou SLK ou qualquer coisa, acho eu, não interessa… é um descapotável de 4 lugares que ele usa para engatar a loirinhas bonitinhas, queridas e ingénuas.

Bolas, mas também ainda é cedo de mais, se me ponho já a caminho vou ter de ficar imenso tempo há espera. Vou dar uma voltinha por aqui. Vou telefonar à Maria, ela deve estar a sair com os canitos dela. E assim vou montando a minha própria armadilha… palavra puxa palavra e o tempo passa e pronto… lá vou eu de carro para o Tamariz , afinal as cadelas também já passearam bastante e elas não gostam de barulho e confusão.

- “… onde é que estás?”
- “Ainda estou em casa… estou aí em 10 minutos.” Não acredito! Já passa da meia noite! Mas o que é que eu estou aqui a fazer? Bem… vou dar mais uma voltinha a pé para não ficar aqui especada à espera dele. Vou pela muralha até à Praia da Rata e volto para trás. Se lhe telefonar pode ser que ele ainda não tenha passado no Monte Estoril e vou com ele de carro, assim pudemos conversar um bocadinho a sós. Não! Não quero ser chata e estar a telefonar de 5 em 5 minutos! Vou voltar a pé para lá! Assim ele até tem de esperar um bocadinho por mim. Fica melhor!

Não vou telefonar… ele quando chegar liga-me. Vou passar ali pelo Deck, sempre me distraio. Não gosto de ficar aqui em baixo sozinha. Tenho vergonha. Também tenho vergonha de ir sozinha ao Deck, agora que estou aqui! Vou para o outro lado ver os carros passar. Onde é que será que ele costuma estacionar? Será que ele já foi andando para baixo?

Mas o que é que eu estou aqui a fazer? Devia era ter juízo e ir-me embora. Ele nunca mais vem. Ainda por cima vai estar com os amigos e não vamos poder estar um com o outro! E aquele Stallone, ou como raio lhe chamam… não posso com ele! Fica para outra vez. Combinamos amanhã, ou assim.

Só mais um bocadinho… deve estar quase a chegar… e eu preciso de o ver, ele faz-me sentir como uma deusa.

Vou ver só estes carros até que o semáforo feche… se ele não vier vou-me embora!

Mais um semáforo… também já esperei tanto tempo que mais um bocadinho não faz diferença. O que é que eu estou aqui a fazer? …

Resumindo… esperei por ele, entrei no carro só para conversar um bocadinho, ele deu-me distraidamente um beijo na boca pelo qual pediu desculpa (mas eu não me importei). Mas estava muito distante e disse-me que se tinha atrasado porque estava ao telefone com um amigo e não podia entrar no elevador (!), que andava muito mal e até tinha ideias suicidas, que quase tinha uma namorada e que tinha estado a dar na coca! O quê? Quanto ao elevador podias perfeitamente interromper por uns minutos a conversa; ideias suicidas… deixa-te disso, já deste provas que consegues o que queres da vida e vais continuar a conseguir por muito que o negócio agora vá mal e que as mulheres não te digam nada; uma namorada… tanto me faz, já que tu não és fiel e eu não quero nada de ti além de uma boa queca e elevar a minha auto-estima (o que aliás não está a correr nada bem!); mas a coca! Não acredito! Mas… mas… há quanto tempo? Três meses. Que estupidez! Dinheiro a mais! E agora já não há dinheiro e vais cortar… espero que sim!

Isto não está a correr nada bem. Devia era ir para casa. Já o vi, já conversei com ele um bocadinho, já vi que ele não me pode dar nada de bom, vou-me embora, não é? Não! Claro! Não podia fazer uma coisa acertada! Porque é que insisto em tentar? Já não vou sair há algum tempo, costumava gostar do Tamariz e como a namorada deve chegar entretanto espera-me uma noite muito animada!

- “Não, obrigada, não quero beber nada, estou de dieta!”

Estive à conversa com o irmão do André, com quem simpatizo imenso mas que nunca me lembro do nome, com o André e até com o Stallone e respectivas namoradas. Cheguei à conclusão que o gajo até é mais ou menos, a ex-namorada dele é que era um horror! Apareceu uma Stefanie, amiga e ex-amante do João (não somos todas?) que trabalhava no ramo da cosmética. Devia ser colega da ex-mulher dele. Acabou por me dizer que eu parecia ter trinta e… uma noite estragada, claro! VINTE E NOVE! TENHO VINTE E NOVE! Retribuí a gentileza dizendo que ela era muito simpática e que parecia a Cameron Diaz.

- “Vai uma unha para o pessoal!” diz o João enquanto eu seguro a minha 4ª vodka (que o André contou!). Vai uma unha... Já estou tão farta de estar aqui. Nem sei o que é que estou aqui a fazer. Sei que estou furiosa e aborrecida! E bêbeda! A miúda já chegou e o João chamou-nos para a pista lá de baixo. A caminho encontrei um colega meu do colégio, em estado semelhante ao meu e ficamos à conversa um bom bocado enquanto acabava o copo que tinha na mão e fumava uns tantos cigarros. Quando me fui embora para ir à procura do João já não conseguia ver nada! Agarrei-me a um gajo que pensava ser ele e quando percebi que não era cambaleei dali para fora e fui ao bar lá de cima continuar à procura e buscar a minha mochila. O Tamariz estava cheio e demorava-se para aí meia hora (parecia!) a percorrer o caminho de um lado para o outro. Ainda voltei lá a baixo para me despedir porque eles garantiram-me que o “Jean” estava lá e, de facto, agora com a pista mais vazia, lá o encontrei com a loirinha bonitinha dele. Despedi-me e fui vomitar para o carro!

Tenho nojo de mim! Sou tão estúpida! Porque é que eu me faço passar por isto? Porque é que eu vim sair com o gajo? Porque é que me descontrolei a beber? Está bem que antigamente aguentava quase firme umas 7 ou 8 vodkas mas agora já não estou habituada a beber! Está bem que estavam fraquinhas, pelo menos as primeiras (as outras já não faço ideia) mas devia ter tomado atenção ao meu estado e parado a tempo! Não consigo sequer sentar-me no carro! Tenho de ficar inclinada com a porta aberta e a cabeça de fora. Vou telefonar ao João para ele me levar a casa, afinal a culpa é dele!

Acordo a tremer convulsivamente e é com muita dificuldade que consigo agarrar no casaco e perceber como é que se abre e veste.

Acordo com o telemóvel a tocar. Está um lindo dia de sol e o João consegue convencer-me a ir lá a casa tomar banho e descansar um bocadinho. Argumento: o carro estava estacionado virado para Cascais, e apesar de serem mais não sei quantos Kms (não muitos), o caminho era mais a direito. Isso Ana… insiste na estupidez!

O melhor dos Joões recebe-me, dá-me banho, beija-me e leva-me para a cama. O meu João! Meigo, gentil e que nos faz sentirmo-nos a pessoa mais importante do Mundo. Enquanto nos beijamos e abraçamos deixo-me levar pelos sentimentos – “… tu és muito mais do que uma boa queca! É tão bom estar contigo!”. Podia apaixonar-me outra vez por ti João. Ajudava-te a deixar a coca, ajudava-te no trabalho, tu disseste da outra vez que tinhas mudado, que já não te dizia nada andares para aí a meter-te com miúdas, disseste que eu era muito especial para ti. É por isso que estou aqui contigo. Vais acabar com ela, que não tem qualquer importância, e ficar comigo.

Infelizmente a coca rouba-lhe as erecções e, além do roça-roça suficiente para ficar com comichões, tive satisfação zero!

Acordo esfomeada. Fui comer (claro que ele não tinha nada que eu pudesse comer que não me fizesse sentir ainda mais culpada!).

Acordo esfomeada. Agarro-me a ele e começo a beijá-lo, a provocá-lo. Salto para cima dele e sinto o efeito da provocação debaixo de mim. Boa! É agora! O efeito da coca deve estar a passar! Mas há qualquer coisa que não está bem… ele está distante, muito quieto… -“A Marta deve estar aí a aparecer não tarda…”.

Foda-se! Como é que eu posso ser tão estúpida! Visto-me e saio, outra vez furiosa. –“compreendes, não compreendes…?” “Claro! E tu compreendes que eu fique chateada, não compreendes?” não acredito que me vais deixar sair assim. Eu pensei que era especial. Pensei que ias querer andar comigo. Ainda não sei se eu queria andar contigo (tanga) mas tu tinhas de querer andar comigo! –“Compreendo!” Aquele mesmo ar de desculpa mas não posso fazer nada por ti que eu já conhecia doutras andanças e a mesma revolta invade o meu corpo. As memórias bombardeiam-me e o sofrimento volta todo de uma vez só. E eu mortinha por vir ter com ele… obrigada Marta! (12 de Setembro de 2004)