enquanto eu não volto...

abandono o meu corpo devagar lamentando cada milésimo de segundo... alguém cuidará dele enquanto eu não volto?

domingo, julho 03, 2005

Herói do recreio?

É triste ou é lindo mudar de opinião? Poder mudar de opinião é bom, não há dúvida, mas não nos faz sentir ridículos por vezes quando são assuntos de grande importância para nós? Quer dizer… ninguém perde o sono por hoje gostar de calças mesmo justas e amanhã só usar bocas-de-sino mas e se durante uma qualquer fase da nossa vida desprezamos determinado tipo de comportamento e depois, muito depois, nos lembramos que já tínhamos sido assim?...

Pois é! Estava aqui a lembrar-me de mim própria na primária. Um bocado por imitação do meu irmão mais velho, eu era valente, forte, orgulhosamente forte, aliás... demasiadamente orgulhosamente forte! Fazia questão que todos pudessem ‘apreciar’ como eu era forte e enfrentava fosse quem fosse. Provocava toda a gente, geralmente em defesa dos fracos e oprimidos, mas na esperança de poder exercer os meus dotes bélicos e ser por tal muito admirada. Como eu adorava rebolar no chão toda desfraldada, despenteada a espumar da boca, com as bochechas e as orelhas a ferver de raiva, a bater descontroladamente, cega, imune à dor! Toda a gente a olhar e eu sem dar parte fraca por muito que fosse, por vezes, indiscutivelmente mais fraca, nunca fugia, nunca parava de bater ou de tentar.

Sempre me tinha sentido muito orgulhosa do meu passado heróico até agora quando descobri (a pólvora!) que eu não era em nada diferente dos parvalhões que ganham a noite a armar cenas de pancadaria nas discotecas, o que eu sempre achei no mínimo absurdo. Como é que alguém se podia divertir a provocar deliberadamente situações conflituosas deixando pouca margem para uma resolução sensata, pacífica e civilizada! Os heróis da noite! Ridículos! Eu fazia isso na 2ª classe, na 3ª classe, na 4ª classe, no 1º ano, no… Que ridícula eu devia ser! Nem sei como é que fiquei com tão bons amigos do colégio!

E como é que alguém pode mudar tão profundamente de opinião sem se aperceber durante mais de 15 anos? (17 de Janeiro de 2005 18:45)