enquanto eu não volto...

abandono o meu corpo devagar lamentando cada milésimo de segundo... alguém cuidará dele enquanto eu não volto?

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Revelação

Desculpe! Sou uma daquelas pessoas que emana pedidos de desculpa pelos poros. Desculpe por estar à sua frente no trânsito, desculpe por ter de me servir um café, desculpe por ter de se chegar para o lado para se cruzar comigo no passeio, desculpe por tudo, desculpe por nada!

Tento minimizar o impacto negativo que causo ao resto do Mundo sendo simpática e sorridente, na esperança que me desculpem por existir. É muito difícil para mim passar à frente de alguém numa porta, na estrada temo que me pélo (pelo, sei lá, pêlo é que não deve ser!) empatar alguém, é dramático exigir os meus direitos (como os 30 ou 40 contos que o namorado da minha prima me cravou há 10 anos e que eu nunca fui capaz de pedir!), etc.

Estou consciente do ridículo da coisa e disfarço... peço o meu café com convicção (mas sorridente, claro!), obrigo-me a passar à frente de algumas amigas de vez em quando... mas a culpa está cá.

Culpa de quê? Pois ainda só há hipoteses. Na última sessão de grupanálise lembrei-me duma coisa que pode ter alguma culpa nesta culpa!

O meu pai morreu tinha eu 13 anos. Cirrose hepática. Era alcoólico! Não, não nos batia, mas era no mínimo uma companhia muito pouco agradável e cá está tema para mais um post porque aqui o tema é outro. O que aqui interessa é que não tinha grande afinidade com o meu pai. Era um sacrifício ter de passar as tardes de domingo com ele. E ele devia saber porque estava sempre a comprar-nos com presentes e brinquedos e motos! Claro que lhe tinha afecto, era o meu pai e amáva-me (dizem... e eu acredito). Mas pronto... morreu! E mesmo depois de morto continuou a comprar-nos! Deixou-nos uma herança. Uma perigosa herança para uma miúda hiperprotegida e mimada. Dinheiro com fartura (para olhos adolescentes!), uma herdade no Alentejo, uma casa no Montijo, um terreno na Arrábida, uma Quinta em Caneças, o apartamento onde morava e uma moradia na Parede, ah... já me esquecia da venda de outra herdade no Alentejo que decorria quando o meu pai morreu e que já tive de ser eu e o meu irmão a ir à escritura... acho que é tudo, mas sinceramente não o posso garantir (pois... e um carro e as nossas motos e o recheio da casa e uma madrasta também!)

E a culpa? A culpa vem do que nunca saiu da minha boca. Não por não ser mentirosa, que tenho a minha dose de mentira saudável para fugir do colégio com o namorado... Mas bolas... sei lá se ele não me lê os pensamentos... já é suficientemente mau o que eu pensava ou penso ou não, só podia ser pior mentir sobre isso, por isso nunca disse porque nunca acreditei que preferia o meu pai à herança.

Continuo depois.

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